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Vem confabular aqui

Lado a Lado

  • Foto do escritor: Emanuel Moraes
    Emanuel Moraes
  • 21 de fev. de 2014
  • 8 min de leitura

Na psicologia o Efeito Pigmaleão é o nome dado à decorrência de nossas expectativas e a percepção de nossa realidade, diz que nós realinhamos nossa realidade de acordo com as nossas expectativas em relação a ela. O nome é inspirado pela a história que o poeta romano Ovídio, que viveu no início da era cristã, escreveu sobre o escultor Pigmaleão, que se apaixonou pela própria estátua e fora premiado pela deusa Vênus, que deu vida a ela.

Aprendemos a criar expectativas desde cedo. Buscar superar obstáculos para ao menos alcançá-las e criar coragem para sempre seguir em frente, seja para nós mesmos ou para agradar as tais expectativas de outras pessoas. É algo que se torna inevitável e notamos isso com o passar do tempo, essa esperança de alcançar e superar o que almejamos acaba sendo muitas vezes uma solução motivadora, um desafio a ser vencido. Mas quase sempre não vencemos. Ou talvez vencemos, mas não da forma que tínhamos planejado. E é então que conhecemos a decepção. Aquele sentimento amargo que parece pesar toneladas e que surge tão rápido que é difícil de evitar e não se deixar afundar com ele.

Muitos dizem que as expectativas é o começo da decepção, que não tem como algo que você cria para si mesmo ou para outra pessoa sair perfeitamente do jeito que planejamos. Eles estão certos. Mas eu penso, essas expectativas também não são os nossos sonhos? Os nossos desejos que criamos em nossas vidas não são expectativas criadas em cima de mais expectativas? Então isso significa que se decepcionar está implícito no momento em que as cria. Naquele momento em que você inevitavelmente planeja qualquer coisa que queira alcançar ou que queira receber de volta. Mas ter consciência disso não lhe impede de criá-las ou de sofrer com as consequências delas. É um conjunto inevitável, onde um elemento gera o outro naturalmente.

Esperar de si mesmo algo é complicado, mas nem sempre a decepção gera um incomodo tão grande que não conseguimos o objetivo final. Ás vezes alcançamos a metade daquela meta e pensamos “- Foi o que deu neste momento. E agora? Qual o próximo passo?”, então comemos uma caixa de chocolate e bebemos uma grade de cerveja e partimos para outra. Agora esperar qualquer coisa de outra pessoa, isso sim geralmente se transforma em uma daquelas decepções catastróficas, pois certamente tínhamos investido muito para no fim não recebermos nem o começo do nosso esforço. E não adianta pensar que fazemos as coisas sem pedir nada em troca em um discurso totalmente altruísta, pois sempre – mesmo que seja bem lá no fundo e indiretamente – sempre esperamos qualquer tipo de recompensa que diga “É, valeu a pena tudo o que eu fiz”.

Eu sou o tipo de pessoa, ou era, que sempre fez tudo o que podia e até mais para ajudar os outros no que precisassem. Eu nem preciso dizer o quanto me decepcionei na minha vida. Ok eu falo, foi muito. Mas muito mesmo. Pensa em muito, agora multiplica por infinito. Esse sou eu me decepcionando por causa das minhas expectativas. Mas olhando para um lado de relação interpessoal, eu sempre me dediquei ao máximo às minhas amizades, fazendo de um tudo para que as pessoas que estão ao meu redor possam contar comigo para o que der e vier. Mas eu percebi, e de formas absurdamente trágicas, que eu não posso esperar delas o mesmo que eu estou disposto a fazer por elas. Isso pode até parecer um pouco óbvio para você, mas pense em quantas vezes isso lhe aconteceu, relembre quantas pessoas você esperou que no mínimo se importasse e elas acabaram não fazendo absolutamente nada. E é nesse momento que o maravilhoso altruísmo vai dar um passeio e a decepção te dá aquele abraço de urso que esmaga todos os seus ossos. E não é uma sensação acolhedora. Não mesmo.

Falando um pouco mais de mim e em minhas amizades, que é um campo da minha vida que eu sempre dei muita importância e acabo me entregando de uma forma totalmente descontrolada – algumas pessoas morrem por amores, mas eu não, eu me ferro com amizades que é para dar uma emoção. O que é engraçado porque em relação ao lado romântico, sim eu crio expectativas e quando me decepciono fico arrasado, mas eu me recupero rapidamente e não é tão doloroso comparado em uma amizade. O que revela muito sobre as minhas prioridades –. Mas em todos os momentos em que mais precisei de certos amigos que eu pensava ser para toda a vida, eu acabava vendo que essas pessoas realmente não se importavam tanto quanto, não se dedicavam às pessoas que sempre as ajudavam. As prioridades eram outras, não se importavam com algo que pudesse de alguma forma mudar as expectativas delas que tinham sobre mim. Então a partir do momento em que eu fugia do que elas esperavam de mim, quando eu deixava de ser a pessoa que estava ali para ajuda-las para elas me ajudarem, elas se decepcionavam. Claro, não é algo muito de que essas pessoas tenham a se orgulhar ou dizer que é algo normal. Mas é exatamente isso que acontecia. Elas não estavam preparadas, ou não se importavam, para algo que pudesse me acontecer e tirassem elas de suas zonas de conforto. Então o egocentrismo toma a vez e a reação era de que elas preferiram me decepcionar a se decepcionarem comigo. E de alguma forma, que eu não sei como, todas elas saíam como se eu tivesse as decepcionado. E então o cinismo vem dá um alô na história.

Então as minhas maiores decepções foram com amizades, pelo menos as que mais mexeram com a minha vida, hoje em dia eu não tenho a paciência de, por exemplo, dar chances das pessoas se redimirem comigo. Não é guardar rancor, mas é uma forma de me proteger de tipos de pessoas que – pelas minhas experiências deliciosas – não irão mudar e acabarão me decepcionando ainda mais e de uma forma muito pior. Claro que não são todas, mas é o caso de percepção, de prestar atenção e ver se realmente vale a pena. Mas mesmo assim eu ainda continuo errando em algumas avaliações. Normal.

Fui atrás para saber de outras pessoas as suas histórias sobre expectativas e decepções e consequências. Uma delas é a Barbie, estudante de psicologia de 23 anos. Ela me disse que sempre coloca muita expectativa em cima dela, principalmente sobre estudos e a causa disso era o pai que alimenta uma expectativa muito maior nela. Chegou a fazer um curso em uma faculdade publica apenas para mostrar a ele que era capaz e que ele poderia ter orgulho dela. Então ela sente que perdeu quatro anos da vida dela fazendo um curso que não a satisfez faltando atualmente apenas o TCC para finalizar o curso. Mas no meio desse tempo ela foi atrás do próprio sonho e começou a fazer o curso que queria – psicologia – em uma faculdade paga conciliando com a outra e já está no segundo ano. Mas a pressão que o pai dá em cima dela diz que é simplesmente esmagadora, tanto que ela tem um medo gigantesco de falhar na vida e gerar decepções que não irá aguentar, e principalmente ver o olhar de decepção que o pai já muitas vezes lançara a ela quando na época que não conseguia passar no vestibular da faculdade pública.

Podemos até pensar que é natural essa pressão que os pais colocam em cima de nós, mas não paramos para analisar o que isso nos causa internamente. Algumas pessoas não se importam – ou fingem não se importar como é o meu caso. Sempre fiz o que eu queria, mas é sempre difícil ver nos olhos daqueles que sempre nos criaram o olhar te rebaixando a nada. Ás vezes pode não ser a vontade deles transparecer este sentimento, mas mesmo assim é arrasador até mesmo para os mais incrédulos – mas algumas pessoas a alegria dos pais faz parte da sua vitória pessoal de vida. Como a Barbie que colocou a felicidade do pai em primeiro plano, apenas para deixá-lo feliz por estar fazendo o que ele esperava dela. Qual é a vantagem de viver assim? Viver expectativas que não são suas? Decepções que não deveriam ser suas?

Mas não podemos julgar essas pessoas que preferirem remodelar a sua vida e sonhos para evitar a decepção de outras. Sentir que decepcionou alguém que ama é uma das piores sensações que existe na vida, ser essa decepção para alguém pode nos mudar completamente. É o caso da minha prima Amanda de 24 anos, hoje casada com o namorado da adolescência. Mas antes de casar ela era extremamente impossível, e sou eu quem está falando isso, o tipo de menina tão livre de tudo que chegamos a pensar nos inevitáveis tombos que levaria no seu caminho. Nesta conversa sobre decepções ela me disse que foi uma gigantesca na vida da mãe dela, que na época da adolescência achava que era a mãe a decepção em sua vida. Afirmou que era muito maldosa com a mãe, uma rebeldia sem limites e que foram incontáveis as vezes que a causou dor. Mas ela se lembra de uma que foi um marco para a sua vida.

“– Então, foi em um dia daqueles que tentei me matar nos meus 13 ou 14 anos de idade, claro que sem sucesso, eu era uma idiota e achava que se ingerisse alguns remédios iria morrer. Então quando eu acordei escrevi uma carta falando sobre tudo, sobre eu me cortar varias vezes e tentar me matar, e que culpava ela por causa disso. Pois minha vida era um inferno com meu pai e meu irmão que me batia e tudo mais. Ai entreguei pra ela e fui pra escola. Quando voltei ela ainda estava deitada na cama, ela ficou de cama o dia inteiro e não dirigiu a palavra pra mim. No outro dia ela não tocou no assunto e nunca mais foi falado nada sobre isso em nossas vidas. Hoje eu vejo que aquilo devia ter acabado com ela” ... “ – Eu não queria botar a culpa nela, pois era do meu pai toda a culpa, mas eu cultivava uma raiva dela por não se separar dele. E ela não fazia pensando em mim e meus irmãos. Hoje casada vejo o quanto fui cruel com ela, por isso faço de tudo para ser a melhor amiga dela e recuperar o que perdi quando tinha aquele mentalidade patética”.

É complicado pensarmos o quanto podemos ser injustos em inúmeras situações de nossas vidas, não somente na adolescência quando nossos sentimentos são aflorados e tudo parece o fim do mundo, mas como agora no começo da vida adulta no tão comentando “vinte e poucos anos”. Conversando com todos os meus amigos eu vejo que muita coisa que aconteceu no passado nos fizeram mais sábios, mas não nos impediu de cometer os mesmos erros de formas diferentes. E se parar para pensar, são inúmeras as maneiras de criarmos expectativas ou nos decepcionarmos, então não há como se prevenir ou impedir que aconteça com alguém. Muitas vezes nós decepcionamos outras pessoas sem ao menos saber.

Eu posso ter sido uma decepção para muita gente que passou pela minha vida, mas digo prontamente que poucas vezes eu fui uma para mim mesmo. Acho que é isso que importa no fim. Sermos fiéis a nós mesmos e a nossas convicções do que achamos ser bom ou errado naquele momento da vida. Sempre seremos esses vasos ocos e patéticos preenchendo uns aos outros com expectativas e decepções. Por mais que sempre teremos a chance de nos decepcionar criando expectativas, uma porcentagem muito alta de isso acontecer, não deixamos de criar esse mundo onde tudo pode ser perfeito e do jeito que queremos. Afinal sem essas expectativas nós não moveríamos um dedo para mudarmos nossas vidas, e sem os erros que cometemos gerando as decepções peculiares não haveria motivos para tentarmos novamente ou escolher outra direção. Faz parte da vida. Estará sempre lado a lado conosco.

 
 
 

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