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Vem confabular aqui

As migalhas que nos sujeitamos a aceitar


Há algum tempo que eu venho ensaiando este post. Tenho tentado achar as palavras certas, encontrar a direção correta e os sentimentos necessários para desenvolver algo no mínimo plausível. Estava tentando achar o fio da meada. O propósito de tudo o que estava borbulhando no meu ser.


O caso é que eu nunca iria conseguir, não naquele momento. Pois eu ainda não havia compreendido o que estava acontecendo comigo, estava no olho do furacão, todo o caos acontecia à minha volta, mas estava agradecido por “aparentemente” nada de mal estar acontecendo comigo.


“Meu Deus, é tão lindo, todo esse caos. Obrigado. Obrigado por me manter livre de toda essa tempestade em minha volta e também por me manter em pé”. É... querido, me diz: COMO É QUE VOCÊ VAI SAIR DO MEIO DE TUDO ISSO, SEU ALUCINADO?


Eu tive que sair. Não dava mais para ficar extasiado esperando que milagrosamente tudo se resolvesse da melhor forma possível. E meu Deus, que desastre!


Vou compartilhar um acontecimento que me fez parar e escrever. Estava aqui assistindo um episódio de Gilmore Girls, uma série que assisti quando era adolescente junto com a minha mãe e agora está na Netflix e, logicamente, estou assistindo tudo novamente. Quando eu me deparo com uma situação que a personagem Rory está passando com o par amoroso dela da temporada em que estou. O caso é que o moço em questão não quer nada sério, e ela é uma moça que gosta de relacionamentos, mas por gostar muito dele se sujeita a ter o tipo “relacionamento” que ele a propõe. Sem amarras. Ninguém é de ninguém.

Eu nem preciso dizer o tamanho do desastre.


E eu tenho que dizer, anos depois de eu ter assistido esse episódio, eu o assisti hoje, semanas depois de eu ter terminado um “relacionamento” exatamente assim. Anos depois, já em minha vida adulta, assim como a Rory, eu passo exatamente a mesma coisa. Cômico ou trágico, vocês escolhem. Coisas da vida.


Eu achei que eu poderia ser assim. Achei que poderia ser uma pessoa que curte o momento e que seria fácil mudar, afinal, pelo o amor de Deus, já sou um adulto e tenho a mente no lugar. Mas eu achei que ter a mente no lugar e ser adulto, neste caso, era encarar a situação com maturidade e mente aberta. Como eu fui esquecer de mim nessa decisão? Como eu fui deixar de lado as minhas prioridades?


Eu tentei. Foi uma tentativa. Não há nada de mal em tentar. A velha história de 50% de chances de dar errado ou certo. Deu certo durante algum tempo, enquanto o novo estava acontecendo, enquanto parecia aquele prelúdio cheio de encontros, jantares, taças de vinhos e ligações de sexo de ultima hora e emergencialmente acalorado. Era excitante e tão maduro. Mas o meu verdadeiro eu, o cara que gosta de relacionamentos e AMA se APAIXONAR, cansou de brincar de esconde-esconde. E quando eu dei por mim, eu queria mais. E eu não deveria querer.


Eu sabia o que aconteceria. Sabia muito bem que eu não teria o que secretamente estava querendo. Estava querendo algo de alguém que já havia me dito que não me daria. Mas então você alimenta a expectativa.


“Vai mudar de ideia. Vai perceber com o tempo o quanto gosta de mim e o quanto quer ficar comigo e, então, em um belo dia de sol, vai aparecer no meu apartamento e me pedir finalmente em namoro”. Por que fazemos isso com nós mesmos?


Sabemos que não dará certo e que nada adianta ter esperança neste caso, estamos a alimentando indevidamente, deixando-a enorme e nada saudável com gordurosas dosagens. Um bicho viciado em ilusões. Dois na realidade, nós e a esperança, que virou a nossa companheira de todos os dias. Tremendo, querendo mais uma dose de ilusão.


“Me deixe aqui no olho do furação, onde eu posso não ter exatamente o que eu quero, mas ao menos eu tenho algo”. Quando foi que eu comecei a aceitar migalhas?


Você não aceita o que REALMENTE está acontecendo. Você sabe que aquela situação não está certa. Você sabe que a pessoa não vai mudar de opinião. Você sabe que a única solução é sair daquele turbilhão. Mas como? Afinal, se você fizer isso, vai perder aquela pessoa. Nem que seja apenas uma noite por semana. Nem que seja apenas para sexo casual, em que na noite em que estão juntos, aquela pessoa é amável e maravilhosa com você, até colocar os pés para fora do apartamento dela. Então é uma compilação de mensagens esporádicas e praticamente monossilábicas, a maioria começada por você, até o próximo dia que o outro sentir vontade e saudade de ficar com você. Mas você a tem, por algumas horas que seja, mas a tem. Então você aceita as migalhas e lambe os lábios, agradecido. Extasiado.


Foi uma combinação de erros, mentiras, segredos e ilusões que tentei inutilmente esconder DE MIM MESMO. Não tem outra saída, se lembra? Você vai ter que pular no furacão para sair do meio dele, e não esqueça de deixar a esperança lá. Tente não sentir saudades dela. Parece estranho dizer isso, mas nos apegamos nesse sentimento, por mais que ele não nos faça bem, sentimos saudades de carregá-lo para todos os cantos.

E machuca. Dói. Corta cada parte do seu corpo ao pular. A realidade faz isso. A cura de um vício nunca é fácil.


Neste momento você percebe o quanto está cansado e ainda não havia percebido. É agora que você se pergunta se há algo de errado com você. Qual o motivo da pessoa não te amar. É o momento em que você pulou e está rodando no caos do furacão. “Será que eu não sou o suficiente? Será que eu não posso dar tudo o que a pessoa precisava? Eu estava disposto a tentar de tudo”. E então, da mesma forma que entrou, sem aviso, você sai.


Agora eu entendo, apenas não era para ser. Depois que você pula para fora daquele turbilhão, vendo ele cada vez mais longe enquanto recupera todas as suas forças, é quando começa a entender que algumas coisas não precisam de uma resposta ou propósito. Elas simplesmente acontecem. Aqui fora eu vejo que precisava lembrar de mim mesmo, me reencontrar. Precisava reafirmar, reforçar, as minhas prioridades.

Por enquanto, o que sei dessa experiência, é que eu definitivamente não sou uma pessoa casual. E que, por mais sozinho que possa vir a me sentir, nunca devo me deixar de lado por ninguém. Parece óbvio, mas acredite, é fácil esquecer-se de coisas óbvias em determinados momentos.


“Somos bons juntos mãe, sou boa para ele” – diz Rory.

“Mas ele pode não ser bom para você” – responde Lorelai.


Quando eu descobrir mais sobre isso, eu conto para vocês.

Mas uma coisa é certa, migalhas, nunca mais. Eu mereço mais.

Mereço ser bom para alguém que seja bom para mim.

E você também, se quiser.

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