Geleiras emocionais
- Emanuel Moraes
- 14 de out. de 2014
- 5 min de leitura
Sabe aquela velha história de que quando queremos muito algo e finalmente conseguimos aquilo perde a graça instantaneamente? Então, na grande guerra dos relacionamentos isso acontece a todo o tempo. E aconteceu comigo inevitavelmente, assim como aconteceu com muitas pessoas ao meu redor.
Faz algum tempo que terminei meu último relacionamento longo. Daqueles que você quer bater a cabeça na parede se perguntando – e perguntando até mesmo para a formiga que está comendo o pedaço de bolo que caiu na sua cama ao lado das migalhas de bolacha – qual a razão de não ter dado certo, por mais que você saiba o motivo. É exatamente por isso parece que dói mais. Você saber exatamente tudo o que não deu certo e se esforçar para entender que não poderia mudar nada. Aceitar o fim de algo, por mais que seja óbvio, nunca é fácil. Não quando você realmente se importa. E eu me importava.
Eu fiquei dois anos sem me interessar profundamente por alguém, fiquei quase dois meses após o término com um nó na garganta e alguns meses ainda com aquela sensação chata de que poderia ter dado certo. Não adianta se enganarem dizendo “Ah segue em frente, tem que se jogar na vida”, pensando que vai ser super-rápido superar. Não será. Mas a vida continua sim e ninguém precisa morrer por um fim de namoro. Mas uma certeza que eu tenho é que você aprende. Tanto com seus erros, quanto com os erros da outra pessoa, e é exatamente sobre isso que iremos confabular neste post.
Passei um tempo me preocupando com minha vida profissional, com projetos que estava querendo que se concretizassem e passei dois anos sem me importar muito para a área amorosa. Pois é assim que a maioria de nós superamos, nos lotando de coisas para fazer e pensar. Neste momento nossa vida social bomba de uma forma que nem uma estrela de cinema tem tanta festa e lugares para ir. Claro, sempre arranjamos alguém aqui e ali para dar um carinho, mas sem esperar muita coisa. É aquilo e ponto. Todos nós temos esses amiguinhos, quem não tem é melhor arranjar. Super necessários. Mas também é claro que nunca deixamos de pensar totalmente em encontrar alguém realmente especial novamente. Em sentir aquele friozinho na barriga. Em ter o primeiro encontro, chegar em casa e, ao se olhar no espelho, perceber que está sorrindo feito bobo. Pensar em alguém. Ter alguém para pensar. Confessem. Todos nós temos idealizações de uma pessoa perfeita, ou ao menos alguém que tenha algumas qualidades necessárias. Ás vezes pensamos até nos defeitos que queremos que tenham. É, somos meio loucos assim mesmo. Mas está tudo bem.
Mas acontece que o tempo passa, vamos nos relacionando com outras pessoas, aprendendo mais coisas e inevitavelmente fechando cada vez mais a portinha do coração. No meu caso, como brinco com meus amigos, congelando esse safado até ficar igual o Iceberg que afundou o Titanic. Eu sei, é meio triste se resguardar emocionalmente, como já disse em outro post eu amo me apaixonar, mas como é engraçado tentar se apaixonar depois de passar por muita coisa e amadurecer com elas. Não é fácil e eu percebi isso recentemente. Ficamos cinicamente mais críticos e friamente calculistas. E isso vai piorando conforme a pessoa for mais velha. Será que vamos ficando à prova do amor?
Sim, aconteceu. Sempre aparece alguém quando você menos espera e começa com uma britadeira querer quebrar o gelo que você esculpiu com tanto orgulho e dedicação. Mas não é tão fácil quanto antes se entregar, o tal “deixar acontecer” já perdeu sentido faz tempo e você acaba percebendo que realmente não quer mais deixar rolar. Se for para ser assim, continua solteiro e sem se apegar a ninguém e ser feliz com os “amiguinhos ocasionais”. Então, por mais que você se pegue sorrindo ainda sentindo o cheiro da pessoa em você. Por mais que no outro dia você ainda pensa nela. Agora você sabe que precisa de muito mais do que um coração acelerado e bobo que pode acabar se espatifando na primeira curva. Quem manda correr.
Mas claro, isso não vale para o amor adolescente onde tudo é lindo e maravilhoso e quando o futuro está distante. Isso é para nós dos vinte e pouco em diante que pensamos e nos importamos tanto com este lado da vida que chegamos a congelá-lo por saber do seu perigo. O medo é que essa cautela toda se transforme em armadilhas contra nós mesmos. Criando barreiras onde não existe. Impedindo-nos de ser feliz por termos criado um medo inexplicável e tão imensurável que nem conseguimos admitir que ele existe. Que nos impeça de sermos felizes por termos medo de nos permitirmos sermos amados.
É, aconteceu novamente. Mas antes de deixar que todo o gelo derretesse, eu usei toda a experiência que adquiri, pensei até altas horas da manhã e me deixei ser amado na medida certeza. Não cheguei a amar. Mas eu me peguei sorrindo feito bobo. Só que há outras coisas, e são elas que acabaram me impedindo de permitir que aquilo pudesse se tornar concretamente um sentimento forte. E nossa, como poderia ter se tornado algo imenso. Facilmente, pois a idealização que eu tenha de alguém eu acabei encontrando por bobeira. Só que eu descobri que não sou uma criança sonhadora mais que pensa pode se viver apenas de amor. Agora temos que nos importar se o estilo de vida bate. Os pensamentos. As crenças. As vontades e planos para o futuro, para pelo menos ver se em algum momento os dois poderão caminhar juntos. Nossa, são inúmeras coisas, mas nós sempre temos as que achamos mais importantes na hora de conhecer alguém. E essas outras coisas não bateram.
É, aconteceu novamente. Mas eu sorri, agradeci todo o amor que eu recebi e que pude sentir novamente, então liberei para o mundo o que não era para ser meu. Não vale a pena segurar alguém apenas para não se sentir sozinho ou por pura carência. Não é justo com ninguém. É difícil tomar essa decisão. A de liberar. Tanto em um novo relacionamento quanto a de um de anos. Perceber que o caminho não é o mesmo, por mais que haja sentimento, é delicado e complicado por envolver sentimentos e razões batalhando uma contra a outra. Ás vezes até mesmo entre si mesmas. Mas temos sempre que saber nossos limites. Não vivemos em um conto de fadas, lembram?
Mas me sentir amado foi a melhor coisa do mundo. Sentir que alguém poderia me amar e que, para a pessoa certa, eu possa ser capaz sentir aquele quentinho no peito novamente, isso não tem preço algum. Então eu decidi que não vou esperar alguém derreter o gelo do meu coração, eu mesmo vou fazer isso. Pois eu sou capaz de amar quando eu achar que devo amar. Por que eu sei que eu posso me amar sem amar alguém. E eu decidi amar sempre e em vários níveis diferentes. Por que sentir aquele sorrisinho, do jeito que eu estou sorrindo ao escrever agora, somente por falar sobre a sensação e não ter medo dela ou ser cético e amargurado, é simplesmente incrível.
Então vamos derreter, sentir o que tem que ser sentido, pois foi assim que sempre aprendemos. Não precisamos cometer os mesmos erros, mas precisamos cometer muitos outros, pois esta é a graça de se viver. Não. Eu não estou sendo fantasioso. Eu aceitei. Simples. Qual é, vai deixar o seu passado acabar com seu futuro mesmo? Vai deixar aquelas pessoas tirarem isso de você mesmo?
Tem tanta coisa por vir. E eu cansei de ter medo. Você não?
Comments