Amores de Verão
- Emanuel Moraes
- 20 de dez. de 2014
- 3 min de leitura
“amor de verão
pipa rompeu
a linhafugiu com o vento” - Alonso Alvarez
Desde a minha adolescência eu aprendi a esperar ansiosamente o verão. As melhores festas nas noites quentes. O sentimento de liberdade e despreocupação. Os amigos vivendo aventuras ao seu lado, tais estas que serão relembradas durante toda a sua vida. E claro, os amores que tropeçamos na areia escaldante da praia. Meus amigos sempre diziam uma frase: Amor de verão não sobe a serra. Mas isso é regra?
Hoje em dia, com pensamento formado e experiente – pelo menos bem mais de quando eu tinha quinze anos – fico pensando se o tal “Amor de Verão” é mesmo a roubada que sempre pintaram? Será que esse sentimento oriundo de um tempo em que estamos mais propícios a ter aventuras e experimentar situações em que não nos vimos normalmente, é mesmo algo que devemos apenas aproveitar enquanto a estação mais quente do ano não foi embora?
O engraçado é que todos começam já com essa vontade de algo arrebatador acontecer. De encontrar alguém que seja simplesmente incrível em todos os sentidos, que faça aquela viajem ou aquele momento de calor valer a pena. De ter uma história de amor tórrido em frente ao mar. Mas juntamente com este pensamento, elas anexam o de “Pega, mas não se apega”. Eu não consigo lembrar uma pessoa que levou adiante algo que tenha começado no verão. Qual o motivo daquele sentimento não prolongar para as outras estações?
Conversando com alguns amigos, apareceram tópicos para entender essa mentalidade contraditória. Um deles é que, o tal lance tórrido, geralmente acontece com alguém que você jamais pensaria em ficar se não fosse nesta situação. Principalmente quando já se tem em mente que aquilo não irá para frente. “É uma coisa de momento” disse uma velha amiga de tempos de colégio linkando mais uma explicação. Mas esta mesma amiga se pega pensando naquele cara de tal verão hoje em dia. “Como será que ele está?”. Hoje ela está solteira e no mundo em que ela sempre procurou os caras para se relacionar. Quem sabe tudo o que ela não precisava era um amor de verão que fizesse o ano todo ser quente?
Não que seja errado apenas curtir, paquerar e aproveitar o momento sem pensar no depois, ou, até mesmo, nem querer que haja um depois. Mas este post é focado no tema de pessoas que estão procurando o tal do “Amor da minha vida”.
Outro motivo para não “subir” foi exposto por um colega em uma conversa pelo Facebook. A velha distância. “Geralmente encontramos pessoas que moram muito longe. Assim não tem como pensar em relacionamento, o que resta é curtir o que temos naquele momento” respondeu. Mas então eu lhe fiz duas perguntas: “Você acha que relacionamentos que começaram pela internet podem dar certo? Você acredita em relacionamento a distância ou conhece alguém que nesta situação deu certo?”. Ele respondeu sim para as duas. Mas disse que talvez com ele não daria.
Realmente vai de pessoa para pessoa. Dá vontade de fazer acontecer. Como disse uma amiga “Se valer a pena, sobe!”. Mas eu ainda acho que por mais que as pessoas queriam um relacionamento e a pessoa do verão seja realmente incrível, o sentimento de que possa dar certo já está em alto mar desde quando a mala começou a ser feita. Não há uma expectativa ou vontade de fazer aquele breve relacionamento se prolongar. O medo de se machucar e criar algo que não irá dar certo nos empaca e faz acreditarmos que aquilo é feito para ser nada além do que um momento. Mas então voltamos do verão e voltamos a ter expectativas, e o pior nisso, é que elas vão para as pessoas que não nos trazem nem um punhado de areia de felicidade quanto que o amor de verão nos proporcionou.
Mas também há a questão de estado de espírito. De estarmos leves e por, exatamente, não estarmos esperando nada além de bons momentos, aquilo acaba se tornando mais gostoso. O espírito é totalmente outro quando estamos nos preparando psicologicamente para a estação. Estão, tudo bem, aquela paixão pode até não subir a serra. Mas que tal o sentimento de verão que nos criamos subir? Que tal as expectativas ficarem guardadas na mala? Sempre teremos expectativas, mas acho que podemos dosá-las melhor durante as quatro estações. Não encher a cara com elas.
E sabe de uma coisa? Nesse verão, dê uma chance. Sem neura. Sem drama. Sem expectativas.
Continue leve. Continue no momento caso aconteça. Se não acontecer, se o tal amor não aparecer, curta o seu momento do mesmo jeito.
Mas se acontecer e tiver a chance de colocar na mala e levar. Por que não?
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