Siga em frente
- Emanuel Moraes

- 29 de jan. de 2015
- 3 min de leitura
“(...) A vida não espera.
O tempo não perdoa.
E a esperança, é sempre a última a lhe deixar.
Então, recomece, desapegue-se!
Ser livre, não tem preço!” – Fernando Pessoa
É incrível como nos agarramos a certas situações. Fincamos nossas raízes com tamanha vontade e profundidade, que chega um determinado momento que, mesmo que queiramos, não conseguimos sair do lugar. Como conseguimos ser tão cegos quando se trata de nossa própria vida? Ou pior. Como podemos gostar tanto de sofrer?
Há algum tempo percebo que eu e meus amigos estamos em épocas de transição, nesses vinte e poucos anos onde tudo pode acontecer. E realmente de um tudo está acontecendo. Todo mundo tem essa fase, não importa a idade, mas acredito que na casa dos 20 estamos mais propícios a loucuras e descobertas. Por tudo estar mudando tão rapidamente, começo a perceber o quão é difícil desapegar de algumas coisas que sempre estiveram ao nosso lado, mas que não há mais motivos para seguir conosco.
Quando falo em desapego não é do tipo que todo mundo usa em redes sociais, com frases prontas para se sentirem melhor com o término de um relacionamento de tempos apenas para os outros pensarem que eles estão bem, quando na verdade estão em suas camas com uma garrafa de vodca e uma caixa de chocolates. Situação meramente ilustrativa.
Hoje quando penso em desapego, logo vejo toda a suas inúmeras variedades e causas. É como uma tesoura de jardinagem, que age nas ramificações da grande árvore que é nossa vida, aquelas que se agarram em muitas coisas inúteis e nos pesam impedindo-nos de crescer.
Nos agarramos a tantas coisas em nossa jornada que acabamos esquecendo que elas ainda estão ali, muitas vezes sem fazer diferença, apenas ocupando espaço e absorvendo nossa energia para mantê-las. Outras são extremamente perceptíveis, no nosso íntimo sabemos que não precisamos mais delas, mas não conseguimos soltá-las. Somos egoístas e muitas vezes masoquistas, pois por mais que elas nos machuquem, não conseguimos imaginar a vida sem aquela dor constante. Olha a que ponto chegamos. Nos acostumamos com a dor diária. Preferimos ser infelizes ao admitir que algumas coisas não se encaixam mais em nossas vidas.
Seja aquele antigo casaco que está empoeirado no fundo do guarda-roupa. Um antigo hábito que nos impede de mudar para melhor. Uma amizade que há muito tempo já perdeu o sentido. Ou o grande amor da sua vida, que acabou se tornando apenas o primeiro grande amor da sua vida, ou mais um deles. Somos seres que não são preparados para as perdas. Principalmente quando depende de nós a decisão de “perdê-las”. Nós mesmos decidimos empacar na nossa caminhada para cuidar daquilo que acabou virando um predador, na esperança de que um dia voltará a ser como antes. Não nos ensinaram a desistir. Pois sempre disseram que desistir é sinal de fraqueza. Que desistir de alguém é desumano e desleal. Mas como podemos continuar com algo que se tornou tóxico para nós? Como lutar por algo que não existe mais batalha para se travar? Acabamos lutando contra nós mesmos.
Egoístas incansáveis, queremos sempre ter tudo entrelaçado em nossos dedos e nunca deixar nada escapar deles. Esquecemos que talvez estejamos impedindo do outro seguir com a sua vida também. Que o segurando, impedimos que também siga sua jornada. Que soltar pode ser melhor para todos.
Não é fácil aceitar. Desapegar. Muitas vezes, se libertar. É simplesmente necessário, e ter essa consciência o mais cedo possível é que faz toda a diferença. Sim, demora, é natural. Mas devemos saber a hora certa de tudo, pois não é novidade que o mundo continua apesar de qualquer decisão que possamos tomar. Precisamos acima de tudo QUERER. Então escolha não parar. Escolha não digladiar consigo mesmo. Escolha o novo e a vida maravilhosa que está a sua frente.
É assustador não ter sempre as mesmas coisas confortáveis e previsíveis, por mais destruidoras que elas sejam. Mas a sensação de liberdade e do peso tirado das costas, do espaço vazio que você tem a chance de preencher com coisas boas e novas, pode ter certeza que é uma das melhores coisas da vida. Ser humano significa ter a oportunidade de mudar sempre. De se reinventar. De errar e aprender. De amar incondicionalmente, por mais que o amor tenha lhe falhado.
Então, deixe as estações mudarem, as folhas velhas caírem e serem levadas pelo vento. Dê lugar às novas folhagens. Dê lugar à vida. Saiba diferenciar o que realmente precisa dos seus cuidados e o que só está ali por puro comodismo.
Desapega. E lembre-se que nada é fácil, mas não é impossível. Não imagine que a sua vida não será tão boa quanto antes. A verdade é que não será como antes mesmo, ela pode ser muito melhor.



















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